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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Entrevista a Miguel Alvarenga

Miguel Alvarenga, director do Farpas Blogue, conta toda a história em torno do seu blogue. Explica também todo o processo do novo Jornal que promete ser mais um sucesso. Para finalizar, crítico, deixa uma mensagem a todos os aficionados. 


 Segue-se a entrevista em baixo:





Pedro Sá de Oliveira (PSO) - O Jornal Farpas, já é parte do passado. Entretanto deu continuidade e muito bem, ao seu blogue (Farpas Blogue). Diga-me como tudo começou, falando do antigo jornal Farpas e efectivamente do actual Blogue.

Miguel Alvarenga (MA) -  “Farpas” era o nome da secção que iniciei no início dos anos 80, no semanário “O Crime”. Eram duas páginas diferentes do que até então se fazia na imprensa taurina, onde se contavam as novidades que o público queria saber e não as notícias “institucionais”. Rapidamente se tornou uma coluna popular, que os aficionados esperavam todas as semanas. Mais tarde, em 1991, as “Farpas” passaram para o jornal que então lancei, o semanário “O Título” e há quinze anos esse passou a ser o título do jornal que fundei e cuja publicação se interrompeu em Agosto do ano passado. Tudo na vida tem um tempo e considerei que era altura de renovar por completo o jornal. Além disso, precisava de tempo para escrever o meu livro, intitulado “A História da Minha Prisão”, referente ao período que passei detido, aos fins-de-semana, no Linhó, por um “crime” de “liberdade de imprensa” e que neste momento está praticamente concluído, faltando apenas dar-lhe as “pinceladas” finais. Entretanto já tinha iniciado o blogue, eu que sou o mais avesso possível a tecnologias modernas, internet’s e essas coisas todas. E neste momento é o que faço. Sou “bloguista”… embora primeira seja jornalista. Nunca imaginei, confesso, que o “Farpas Blogue” tivesse o sucesso que teve. Sabia que ia ser lido, confesso também, sem falsas modéstias, mas não me passava pela cabeça que tivesse as visitas diárias que tem. Por isso, penso que é de continuar. E vou continuá-lo, se bem que de vez em quando precise de “abrandar” um pouco o ritmo de trabalho, se não, não faço mais nada e dou em doido… 

PSO -  Tenho estado a ler e falar com imensas pessoas acerca do novo jornal Farpas. Conte-me de forma detalhada qual o novo projecto, o que irá haver de novo.

MA - O novo jornal chamar-se-à “Novo Farpas” ou não, pode ter outro título. É neste momento o que se está a decidir. A data de saída prevista é o próximo dia 12 de Abril, data da inauguração da temporada no Campo Pequeno. Neste nomento há pela frente Fevereiro e Março para decidir tudo e pôr o comboio em marcha. O projecto está mais ou menos delineado. Será um jornal com mais páginas e uma capa em estilo de revista, com mais secções, com mais colaboradores e com uma equipa que mantém alguns dos companheiros antigos e estreia novos. Um projecto de todos e para todos. Em prol da Festa, claro e onde terão cabimento todas as correntes e todas as opiniões, nomeadamente as das associações e intituições da nossa tauromaquia. A ideia é deixar um pouco de parte as polémicas e fazer um jornal abrangente. Não é uma “viragem” no conteúdo e na minha forma de estar. Sempre fui polémico e “burro velho não aprende línguas”, mas as grandes polémicas vão ficar no blogue. O novo jornal vai ter que agradar a todos. Há também neste novo projecto, obviamente, não propriamente um acto de contrição da minha parte, mas uma maturidade maior, estilo como que diz: “já chega”, agora vamos fazer um jornal diferente, onde não falta algum “picante” que agrada à maioria, mas onde exista consenso que reúna também as minorias. Todos, numa só palavra. Vai ser um jornal atraente, diversificado, em suma, um jornal giro. Mas diferente. Porque a diferença tem sido a minha marca. Nunca fui nem quis ser melhor ou pior que os outros, mas gostei sempre de marcar a diferença. Não sei ainda se serei o director do novo jornal, provavelmente não. Claro que terei nele a maior intervenção a nível editorial e jornalístico, mas já estou meio cansado de “dirigir” jornais e preciso de tempo para outros projectos, não taurinos, que me proponho realizar nos próximos tempos.

PSO - Qual a sua opinião sobre a actual Festa Brava em Portugal, tendo ela um decréscimo em relação a anos anteriores. Quais os factores na sua opinião que levam a toda esta situação.

MA - O decréscimo, na minha opinião, terá que ver com o número de espectáculos e não propriamente com o entusiasmo que a Festa Brava está a ter cada vez mais, sobretudo nas camadas mais jovens e para isso foi fundamental a reabertura do Campo Pequeno que, não tenho dúvidas, foi responsável pelo nascimento de novos aficionados. Mais tarde ou mais cedo, com crise ou sem ela, o número exagerado de espectáculos que se estava a dar por ano em Portugal tinha obrigatoriamente que ser reduzido. Acompanhei o nascer e o evoluir de muitos toureiros e sempre tive a opinião de que a qualidade deveria sempre prevalecer em relação à quantidade. Infelizmente, há apoderados e toureiros que assim o não entendem e que toureiam todos os dias em todo o lado. A nossa geografia taurina e a do próprio país é muito curta. As praças estão a vinte, trinta quilómetros umas das outras e os toureiros são sempre os mesmos em todo o lado. Isso cansa. É o mesmo que irmos ao cinema quatro vezes por semana ver sempre o mesmo filme… Mas para responder concretamente à sua questão, considero que a Festa pouco tem evoluído nos últimos anos. Depois de Mestre João Núncio, apareceu Mestre Batista, Zoio, depois Moura, depois Salgueiro, depois Rui Fernandes e pelo meio, muitos. Muitos e bons. O Emídio Pinto, o Manuel Jorge de Oliveira, o João e o António Telles, o Bastinhas, o Salvador, o Rouxinol, sei lá, tantos. Hoje em dia, há uma fornada imensa de novos cavaleiros e não há meio de um deles romper em força. Há muitos filhos de toureiros bons mas que, na minha opinião, por muito bons que sejam, ainda não conseguiram ser melhores que os pais e o problema é que os pais ainda aí estão e isso dá sempre azo a comparações que acabam por sem complicadas para os júniores… Acho que estamos urgentemente precisados de um abanão forte, de alguém que o dê. Pode ser um cavaleiro de dinastia ou não. Não é obrigatório ter nome de dinastia. Toda a vida, em toda a história, apareceram em Portugal, em Espanha, etc, toureiros de dinastia. Mas os toiros “sabem” pouco de apelidos e são quem os põe no sítio, a verdade é essa, doa a quem doer. Quanto ao toureio a pé, continuo na minha: houve nos últimos trinta anos um Vitor Mendes, felizmente ainda há, está aí para dar e durar… e não voltou a aparecer outro. Há muitos, alguns “promissores” há muitos anos, mas o toureio a pé não anda nem desanda, essa é a triste realidade. De forcados nem vale a pena falar. São os últimos românticos da Festa, são o nosso maior cartaz em termos tauromáquicos para os estrangeiros que nos visitam. Neste momento há grupos a mais e muitos grupos que não têm razão de existir. Penso que terá que aparecer o toiro-toiro (que não tem sido muito visto por aí…) para que haja de novo uma selecção de grupos. No que respeita ao toiro, penso que é o maior dos problemas. Com a criação dos “nhoc-nhoc”, como muito bem lhes chamou um dia o João Salgueiro, a emoção tem andado arredada das arenas. Hoje é mais um espectáculo, também há quem goste, não duvido, mas a Festa deixou de ter o perigo e a emoção que tinha antigamente. E isso faz falta. Quanto aos empresários, há bons empresários, mas faltam empresários como os que havia antigamente. Não é ser saudosista nem dizer que naquele tempo é que era melhor, mas acho que fazem falta hoje empresários como Manuel dos Santos, Alfredo Ovelha, Manuel Gonçalves e outros que não sendo do meu tempo, como José Guerra, continuam a ser referências. Mas como tudo mudou, é natural que o “sistema” também mude e tudo hoje seja diferente.  

PSO - Para finalizar, qual a sua mensagem para todos os aficionados?

MA - Uma e só uma: unam-se, deixem-se de tricas, deixem de fingir que são muito amiguinhos e depois andarem às facadas nas costas uns aos outros. Isto é um meio complicadíssimo, um meio de vaidades, de ilusionismos, de farsas, de “impostorices”, como se costuma dizer. E é pena.


Entrevistador: Pedro Sá de Oliveira
Entrevistado: Miguel Alvarenga