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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Entrevista a Rui Souto Barreiros

Para primeira intervenção neste projecto, do qual estou muito orgulhosa de poder fazer parte, gostaria de entrevistar a pessoa que vi e vejo como um ícone da nossa Tauromaquia. Para muitas não será novidade, mas não pude deixar de fazê-la.
Assim vos deixo, com as queridas palavras com que Rui Souto Barreiros, nos presenteou.


Mariana Oliveira Moreira (MOM) - Como forcado e posteriormente como cabo, o que nos tem a dizer, desses anos que esteve envolvido na Festa? Rui Souto Barreiros (RSB) -     Como pode calcular, em quase quarenta anos, ligado às lides, muita coisa há para dizer. Umas boas, outras assim assim, também algumas más, mas felizmente, as boas e muito boas foram em número muito maior que as outras.
      Como a resposta não caberia nesta entrevista, eu prometo que lhe vou respondendo aos poucos, até para lhe dar ideias par outros temas. No entanto, não deixo de lhe dizer, que foi muito bom e reconfortante o que vivi na Festa.


MOM - Depois dessa breve introdução, gostaria que nos dissesse quais as diferenças que sente na Festa de hoje, com a do seu tempo? 
RSB -    As diferenças são várias. Umas para melhor, outras para pior.
      Como também aqui, a resposta completa seria muito longa, digo-lhe apenas duas diferenças. As restantes ficam para depois, na medida em que cada uma, como diz o Povo, tem pano para mangas.
      Uma diferença, está na qualidade das Ganadarias que, de uma maneira geral, actualmente têm melhor qualidade. No meu tempo ,ainda apanhei ganadarias de casta Portuguesa e em cheio, a transição para a casta Espanhola.
     Outra diferença, está na falta de qualidade e de conhecimentos, de muitos dos intervenientes de hoje, na nossa Festa. Aqui há muito a melhorar. Por exemplo, as voltas à arena, só serem dadas a pedido do público e não, decididas pelo toureiro. O Público tem que ser respeitado.


MOM - Os Forcados de hoje em dia, são mais reconhecidos do que no seu tempo? O que tem a dizer sobre isso?
 RSB -   Os que têm qualidade, são sempre reconhecidos.
      Não serão tanto, como no meu tempo, não por falta de qualidade, mas porque nós éramos muito menos que hoje e, além disso, todas as semanas, a RTP, estava a transmitir corridas de toiros. Não eram só as corridas do Campo Pequeno e
     assim sendo, os de primeiro plano, todas as semanas entravam pela casa das pessoas.


MOM - Como Forcado que foi, em tempos que existiam poucos Grupos, o que diz, de termos no activo 50 Grupos a pegar?
RSB -     Eu compreendo, que a juventude das povoações com Praça de Toiros, queiram um Grupo na sua terra. Mas isso, acho que está a ser prejudicial para a Festa, na medida em que leva a maioria dos Grupos, a fazerem poucas corridas por época. Assim sendo, os elementos desses Grupos que tinham condições para poderem sobressair, acabam por passar ao lado de uma possível boa carreira, por falta de oportunidades.
     Atendendo ao número de corridas que se efectuam por ano, penso que metade, seria o número ideal para os Grupos. Todos ficariam a ganhar. Os Grupos, pelo aumento da qualidade dos mesmos e o Público pela melhoria do espectáculo.


MOM -  Para muitos aficionados, é considerado um dos ícones da forcadagem, bem como um sabedor nato de Tauromaquia. Gostaríamos de saber, como se sente ao ver, por diversas vezes, a nossa Festa às turras? RSB -     Obviamente que me sinto muito mal. Os que gostam de andar às turras, só demonstram aquilo que disse atrás, falta de conhecimento do que falam. Se estivessem calados, prestariam um grande serviço à nossa Festa, pois não lhe fariam mal.
      Mas a vaidade, cega as pessoas, e é vê-los por aí, em bicos de pés e de braço no ar, para que reparem neles. De outra forma, como não têem valor, passariam despercebidos e isso, não lhes interessa. Enfim, são sinais do tempo.


MOM - Enquanto Forcado, teve o privilégio de se fardar com irmãos ,primos e filho. Neste momento, tem o privilégio de poder acompanhar, o seu neto mais velho, a iniciar-se nesta tão nobre arte. Gostaríamos que nos dissesse, quais as sensações.  RSB -    Muito, muito, e sempre muito medo. Por maior que seja a confiança, no valor e qualidade deles. Por maior que seja a convicção num triunfo, lá bem no fundo, está escondido e sempre pronto a atacar, um malandro e velhaco que não nos larga, e que tem por nome: MEDO.

MOM - Existe alguma história marcante, que ainda o acompanhe nos dias de hoje, que nos possa contar?   RSB -   Sim, nestas andanças existem sempre muitas histórias para contar.
     Esta passou-se num Festival Taurino, realizado no dia 25 de Outubro de 1964,em Santarém.
     Eu fui pegar um toiro, consegui pô-lo a arrancar-se de muito largo, fechei-me bem com ele e a certa altura o toiro, com a embalagem que trazia de mais de meia praça, desequilibrou-se, afocinhou e deu uma cambalhota completa, sem que eu me largasse. Claro está, que a pega resultou muito espectacular por invulgar. No final da corrida, estava fora da Praça, numa daquelas mini-tertúlias que se formam, a comentar o sucedido. A certa altura, começamos a ouvir alguém a pedir licença
para passar. Um senhor, já entrado na idade, muito bem vestido e com o chapéu à Mazzantinni, chegou-se junto de mim, pôs-me a mão em cima do ombro e disse-me:
     Como os amigos podem ver, já cá ando nisto há muitos anos. Por isso, não podia deixar de vir aqui dar-lhe um abraço, porque foi a primeira vez, que vi um homem agarrar num toiro, e espetar com aquela merda toda no chão. Dito isto, deu-me um grande abraço e lá foi todo feliz da vida.


MOM - Como grande aficionado que é, diga-nos qual o cartel que gostaria de ver numa corrida?
RSB -     Sempre defendi e defendo, que o modelo de corrida mais indicado para Portugal ,é a corrida mista e assim sendo, cá vai o cartel:
     Cavaleiros -     Maestro João Moura (à moda antiga) e o jovem Duarte Pinto
     Espadas     -     José Tomás e Alexandre Talavante
     Forcados   -   O Grupo do meu neto Aposento da Chamusca
     Ganadaria  -    De toiros a pedirem contas: Manuel Assunção Coimbra
    Com um cartel destes ,o público não adormece.



MOM - Muito se tem falado, nesta crise que nos castiga, bem como desta nova de petições geradas por anti-taurinos. Qual a sua opinião, sobre estes dois assuntos?
RSB -     Em relação à crise, não podemos ignorá-la. Ela é real e, vai concerteza, trazer muitos problemas para a nossa Festa.
     Os aumentos de custos, de tudo que envolve a Festa, como por exemplo a criação do toiro, junto com a diminuição do poder de compra, da grande maioria das pessoas, vai trazer grandes dores de cabeça às entidades envolvidas neste mercado.
     Em relação aos anti-taurinos, não podemos ignorá-los .Por detrás deles, existe um lóbi fortíssimo, ligado à comercialização de alimentos, medicamentos e diversos materiais e produtos para a criação e manutenção de animais de estimação e companhia. Esta gente utiliza a mentira, para atingir os seus fins. Nas manifestações, recorre não só aos profissionais da arruaça, mas também, aquela juventude que é paga à dose, a troco de fazer barulho.
     Até conseguiram que, uma grande parte de Veterinários, deixassem de o ser, e passassem a ser meros negociantes de Veterinária. Não podemos ignorar, de que se trata de um negócio de muitos milhões por mês.
     Sem dúvida, há que lhes fazer frente, desmascarando-os.


MOM - Para terminar, que mensagem quer deixar à nossa aficion?
RSB -      Não nos podemos deixar adormecer. O bom resultado obtido na AR, obriga-nos a trabalhar, no sentido de levarmos os nossos políticos a, de uma vez por todas, perceberem e respeitarem, não só o espectáculo taurino, mas também, toda
     a sua envolvente. E verem, que a nossa Festa, não é de meia dúzia de pessoas, mas sim, de todo um Povo que, mais que tudo, merece ser respeitado.

Entrevistadora: Mariana Oliveira Moreira
Entrevistado: Rui Souto Barreiros